Os
cristais de silício brilham, os rostos ficam opacos e nada mais?
O
trem da juventude é veloz, quando foi olhar já passou. Os
trilhos do destino cruzando entre nós, pela vida, trazendo o novo. (O trem da juventude, Os
Paralamas do Sucesso). Não poderia começar este texto sem usar o refrão desta
música. Estava pensando sobre esta expressão e cheguei à seguinte conclusão:
passa rápido porque quando somos jovens perdemos tempo com coisas improdutivas
(porque nesta fase da vida perder tempo é prazeroso: comer, dormir e jogar, não
necessariamente nesta ordem). É um prazer que nos mata e também exalta. O
grande problema não é expirar fisicamente, é perecer a cada dia sem aproveitar
o mundo de possibilidades que temos para aprender algo novo, que seja realmente
memorável no futuro, isto sim, é morrer sem perceber, talvez de maneira bem
volátil ou morosamente.
A geração atual não está preocupada
em oferecer a sociedade coisas concretas, são efêmeros, criaram um mundo com
suas próprias leis, dos olhos opacos amantes do silício, do touch, cheios de ócio. Por incrível que
pareça esta é a sua maneira de mudar o mundo, irônico, não?
O verbo simboliza a ação. A partir
da afirmação podemos questionar e colocar a prova alguns, por exemplo: estar,
ser e fazer. Comecemos pelo estar. No atual cenário de plena globalização tecnológica podemos estar em
vários lugares ao mesmo tempo, pelo menos é o que dizem vários slogans da
indústria high tech. Aqui encontramos
nosso primeiro desafio: o que é estar efetivamente ou participar de um
trabalho, projeto ou atividade? Como manter presença física e mental nos
lugares que frequentamos? Parece inócuo, mas este verbo tornou-se a aflição dos
últimos tempos, bastar esquecer uma parte do corpo em casa e o dia não será
mais “perfeito”.
O segundo desafio está na formação
do jovem enquanto ser, suas competências e habilidades para conseguir
afirmar-se como indivíduo no meio social do qual faz parte. Não podemos orientar,
instruir ou ajudar alguém sem o apoio das instituições sociais (família,
escola, igreja), dentre outras (para não dizer que sou bairrista, “coxinha” ou
conservador). Infelizmente, os padrões apresentados entre os jovens
contemporâneos sobre estes três pilares são de instituições falidas, assim
sendo, acreditam que nada podem aprender. Com seus sabres de luz confidenciam:
é tudo tão chato!
Se não conseguirem idealizar uma
condição mínima para caracterizar o ser, como compreenderão as questões
sociológicas e filosóficas mais complexas de status, papel, prestígio, valores,
vícios, virtudes, PT e PSDB, democratas e republicanos, chineses e tibetanos e
gregos e troianos?
A partir dos pressupostos acima
chegamos ao verbo fazer. O que os jovens preferem fazer nos dias de hoje? Praticar
exercícios físicos? (Minoria). Ler? (Audácia!). Ver e ouvir? (Bem, acho que é
isso). Imagine que a grande revolução ainda está para acontecer: os jovens da
geração Z acreditam que a solução para as mazelas do mundo e dos seus próprios
males serão resolvidos com uma mágica por meio da criação de um aplicativo que
desempenhe todas as funções “ruins” da sociedade para que sobre mais tempo para
o ócio.
Se considerarmos tudo isso como um
sistema social ou natural, o pior está por vir? O mundo com as suas leis,
regras, conduta e moral surgirá. Mas qual será a base? Uma geração sempre
acredita que estar fazendo uma revolução (revolução sempre causa desconforto),
rompe-se com a velha ordem e instaura uma nova. Talvez será chamada de
Revolução Sedentária.
Pensando nisso faça algumas
perguntas a si mesmo: quantas vezes neste ano agradeci a Deus por tudo que
tenho? Quais foram as boas ações que fiz? Quantos livros já li? Estou usando
meu tempo para estar com meus amigos e familiares? Me escrevi em algum curso
novo? Estou fazendo algum trabalho voluntário? Bem, se todas as respostas forem
não, deve-se preocupar. Einstein dizia que “insanidade é continuar fazendo
sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.
Algumas reflexões seguem ao final
deste texto, a primeira é: se você não deu a mínima para o que está escrito, é
um sinal de quão perigoso está sendo nosso projeto de futuro enquanto
humanidade. Mas se ficou indignado, nervoso ou furioso, pensativo, fico feliz,
pois, sair do estado de inércia e indignar-se é o princípio de uma mudança
profunda que começa dentro de nós e assim podemos dizer que iremos construir
algo inovador, que realmente tenha significado para o bem comum. Lembre-se: o
mundo é uma extensão de nós mesmos.
Diego Caldas :)