quinta-feira, 24 de março de 2016

A altimetria e as cores dos espaços e as formas de ver e pensar.

          Existe um castelo fortificado em cada um de nós! Em uma cota diferente, uns mais fortificados e altos outros no meio de uma pirâmide chamada de “C” e uma maior e menos fortificada na base desta mesma pirâmide, que aprisionou e mantêm cativo dentro de um sistema feudal e pensamento dominante os caboclos cafuzos mamelucos pardos. Aquela grande máxima da casa grande e senzala, da elite e das massas, dos sabores e odores, do bonito e do feio, do “de cor” e do branco, do popular e do aristocrata, do sem oportunidades e dos abastados, enfim, daqueles que estão dentro e que estão fora.
Cada sociedade possui um sistema de castas diferente, algumas são explicitas como nas terras colonizadas pelos britânicos, outras sulistas, como a dos peregrinos americanos, e uma mascarada e amordaçada implantada no calor dos trópicos. Esta última podemos chamar de nossa. Ela é perversa porque não nega nem afirma, nem aceita as questões afirmativas, é positiva e diz que tudo é coitadismo. Coitado dos lombos, dos dorsos e braços!
No espaço por nos habitado estas leis sociais tornaram-se leis da física, inalteradas, como uma fortaleza que não permite uma ascensão ou trânsito. Não por questões físicas, palpáveis, mas pelas cores, lugares, dialetos, guetos, ternos e togas, roupas brancas que não podem ser usadas por pessoas de outra cor, pela supremacia racial secular e por você mesmo que não quer mudar sua forma de pensar.
Este é o espaço segregado dos tempos crioulos, do fumo e das cachaças, dos navios infames em alto mar, da desgraça dos povos “errantes” que morreram de trabalhar para o próprio castelo edificar. Também um templo sagrado, uma justificativa: sim, pode ser feito, são raças inferiores, sua proteção contra o sol é maior, aguentam o ardor e dor da chibata. Coitado dos lombos, dos dorsos e braços!
Não se reconhece a história, os séculos inglórios, da república aristocrática (que europeus trouxeram para clarear a população) que mandaram para longe em cotas mais altas os grupos crioulos construírem na borda, as hordas em ordem de cima para baixo, das casas que o chão da vista a telhados. Hoje para o asfalto não podem descer é tiro que come, coisas que somem, pessoas e homens, lembra do Amarildo? Mais um? Menos um? Este tentou atravessar, ir e vir, sorte não teve, muito menos direito, quem dirá o respeito.
De tempos em tempos a minoria sobrevive: Aleijados e Machados, Barretos e Heraldos, Lázaros e Glórias, Thaises e Thiagos, Ludmilas e Sherons, Pitangas e Jorges, Majús e Zumbis, Julianos e Césars, Ernestos e Abdias, Pixiguinhas e Edsons, Cartolas e Santos e o “justiceiro” Joaquim. Uma lista maior seria possível se não fosse o fosso do castelo a dragá-los ao longo da história.
No abismo do senso comum impera o preconceito: você denegriu minha imagem, preto é ladrão! A coisa está preta (difícil será!) Falou que não presta, a cagada é certa, na saída ou entrada. Faça direito, não como o preto! Sai deste banco, seu lugar é atrás das correntes! Entrou numa loja, lá vem segurança, revista e olhos atentos, cuidado dobrado. Polícia na rua: abordagem é certa! Na faxina da casa e outros serviços tem sempre uma negra, dizem que é seu lugar. Se nunca ouviu ou sentiu, não pode falar, prefere velar e justificar: foi só um mal-entendido, não resolvido, mas está tudo certo (visão do preconceito clássico) ratificada pela expressão “todo dia é dia de preto! ”. Orgulho na mente humana, nega e diz que é mentira, no fundo dá galhadas.
Acredite tudo isso existe todos os dias na nossa sociedade e de geração em geração as mesmas crenças se tornam cada vez mais sólidas numa segregação insólita que aflige o Brasil. Dizem que a educação é o caminho. Pela história, pela escravidão, pelo preconceito: pense nas cotas! De alto a baixo. São necessárias? Ou arbitrárias? Coitado dos lombos, dos dorsos e dos braços!

:) Diego Caldas 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é fundamental!