A altimetria e as cores dos espaços e as formas de ver e pensar.
Existe um castelo fortificado em cada um de nós! Em uma cota diferente, uns mais fortificados e altos outros no meio de uma pirâmide chamada de “C” e uma maior e menos fortificada na base desta mesma pirâmide, que aprisionou e mantêm cativo dentro de um sistema feudal e pensamento dominante os caboclos cafuzos mamelucos pardos. Aquela grande máxima da casa grande e senzala, da elite e das massas, dos sabores e odores, do bonito e do feio, do “de cor” e do branco, do popular e do aristocrata, do sem oportunidades e dos abastados, enfim, daqueles que estão dentro e que estão fora.
Cada
sociedade possui um sistema de castas diferente, algumas são explicitas como nas
terras colonizadas pelos britânicos, outras sulistas, como a dos peregrinos americanos,
e uma mascarada e amordaçada implantada no calor dos trópicos. Esta última
podemos chamar de nossa. Ela é perversa porque não nega nem afirma, nem aceita
as questões afirmativas, é positiva e diz que tudo é coitadismo. Coitado dos
lombos, dos dorsos e braços!
No
espaço por nos habitado estas leis sociais tornaram-se leis da física,
inalteradas, como uma fortaleza que não permite uma ascensão ou trânsito. Não
por questões físicas, palpáveis, mas pelas cores, lugares, dialetos, guetos,
ternos e togas, roupas brancas que não podem ser usadas por pessoas de outra
cor, pela supremacia racial secular e por você mesmo que não quer mudar sua
forma de pensar.
Este
é o espaço segregado dos tempos crioulos, do fumo e das cachaças, dos navios
infames em alto mar, da desgraça dos povos “errantes” que morreram de trabalhar
para o próprio castelo edificar. Também um templo sagrado, uma justificativa:
sim, pode ser feito, são raças inferiores, sua proteção contra o sol é maior,
aguentam o ardor e dor da chibata. Coitado dos lombos, dos dorsos e braços!
Não
se reconhece a história, os séculos inglórios, da república aristocrática (que
europeus trouxeram para clarear a população) que mandaram para longe em cotas
mais altas os grupos crioulos construírem na borda, as hordas em ordem de cima para
baixo, das casas que o chão da vista a telhados. Hoje para o asfalto não podem
descer é tiro que come, coisas que somem, pessoas e homens, lembra do Amarildo?
Mais um? Menos um? Este tentou atravessar, ir e vir, sorte não teve, muito
menos direito, quem dirá o respeito.
De
tempos em tempos a minoria sobrevive: Aleijados e Machados, Barretos e
Heraldos, Lázaros e Glórias, Thaises e Thiagos, Ludmilas e Sherons, Pitangas e
Jorges, Majús e Zumbis, Julianos e Césars, Ernestos e Abdias, Pixiguinhas e
Edsons, Cartolas e Santos e o “justiceiro” Joaquim. Uma lista maior seria
possível se não fosse o fosso do castelo a dragá-los ao longo da história.
No
abismo do senso comum impera o preconceito: você denegriu minha imagem, preto é
ladrão! A coisa está preta (difícil será!) Falou que não presta, a cagada é
certa, na saída ou entrada. Faça direito, não como o preto! Sai deste banco,
seu lugar é atrás das correntes! Entrou numa loja, lá vem segurança, revista e
olhos atentos, cuidado dobrado. Polícia na rua: abordagem é certa! Na faxina da
casa e outros serviços tem sempre uma negra, dizem que é seu lugar. Se nunca
ouviu ou sentiu, não pode falar, prefere velar e justificar: foi só um
mal-entendido, não resolvido, mas está tudo certo (visão do preconceito
clássico) ratificada pela expressão “todo dia é dia de preto! ”. Orgulho na
mente humana, nega e diz que é mentira, no fundo dá galhadas.
Acredite
tudo isso existe todos os dias na nossa sociedade e de geração em geração as
mesmas crenças se tornam cada vez mais sólidas numa segregação insólita que aflige
o Brasil. Dizem que a educação é o caminho. Pela história, pela escravidão,
pelo preconceito: pense nas cotas! De alto a baixo. São necessárias? Ou
arbitrárias? Coitado dos lombos, dos dorsos e dos braços!
:)
Diego Caldas
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